quarta-feira, 25 de novembro de 2009

todas as cartas de amor

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Poema de Álvaro de Campos, Foto de Henry-Cartier Bresson

Divagações....

O amor deve ser mais fácil de confessar do que o querer. Porque o amor é um estado no qual só tem o querer bem, o torcer para a pessoa ser feliz... O querer tem também o jogo, a dúvida; aquele que confessa querer é aquele que se rende, que se arrisca a romper o jogo. É quando se quer tanto que é preciso sair da dúvida, que se abre mão do próprio mistério para saber do querer (ou não) do outro.

Aquele que rompe o jogo deve ser corajoso, pois às vezes a única coisa que mantém o querer é a dúvida instigante. Quando tudo vem às claras há o risco de não poder mais voltar ao jogo, pois ele é mantido pela incerteza. É preciso um dizer que dá espaço para desdizer, paratanto as bebedeiras, as falas vazias, a falta de ação.

Mas chega um momento no qual é preciso dizer algo, pois, senão, tudo se torna amarelecido pelo tempo; a dúvida se converte em irritação e frustração, o talvez se transforma em não, o querer se amorna...

Porém, mesmo com as indicações de que este momento há de chegar, o medo de ser o que vai romper o jogo ainda é mais forte e a fala fenece diante dele como obediente subalterna.

Às vezes a ilusão da possibilidade é mais forte do que a verdade da realização.

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